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Índice de conteúdos- Tarifas de Trump e seu impacto na supply chain global
- Tarifas de Trump: quais taxas poderiam ser impostas?
- Setores mais afetados pelas tarifas de Trump
- Efeitos das tarifas de Trump sobre as cadeias de suprimentos globais e europeias
- Conclusões
- Perguntas frequentes sobre as tarifas de Trump
Quando assumiu a presidência dos Estados Unidos pela segunda vez, no começo deste ano, Donald Trump cumpriu uma promessa de campanha: retomaria uma agenda comercial abertamente protecionista. Todos os anúncios que ele fez desde o início de sua presidência sugerem que ele pretende cumprir esse compromisso.
Durante seu primeiro mandato, o presidente dos EUA lançou uma guerra comercial contra a China e impôs tarifas sobre produtos como aço, alumínio e determinados alimentos europeus. Agora, as novas tarifas devem ser mais amplas e ambiciosas, com o potencial de afetar significativamente a cadeia de suprimentos global. Neste artigo, exploraremos como as tarifas de importação de Trump podem impactar diversos setores da cadeia de suprimentos global.
Tarifas de Trump: quais taxas poderiam ser impostas?
Trump declarou que implementará medidas tarifárias drásticas como um dos pilares de sua agenda econômica. Suas declarações têm sido flutuantes e, em alguns casos, até contraditórias, mas várias frentes estão começando a surgir:
Tarifas recíprocas globais
Isso envolveria não apenas a equiparação das tarifas existentes, mas também a abordagem de outras barreiras regulatórias ou fiscais. Especificamente, Trump acredita que o IVA europeu atua como uma barreira comercial (embora seja, na verdade, um imposto que se aplica a empresas nacionais e estrangeiras, e não uma tarifa) e quer impor tarifas equivalentes em resposta.
Anteriormente, quando anunciou as tarifas pela primeira vez, o governo norteamericano citou o etanol brasileiro como exemplo. “A tarifa dos EUA sobre o etanol é de apenas 2,5%. No entanto, o Brasil cobra uma tarifa de 18% sobre as exportações de etanol dos EUA. Como resultado, em 2024, os EUA importaram mais de US$ 200 milhões em etanol do Brasil, enquanto exportaram apenas US$ 52 milhões em etanol para o Brasil”.
Setores-alvo
Além das tarifas gerais, Trump está ameaçando com sobretaxas de 25% sobre as importações de determinados produtos. Alguns dos principais “candidatos” que provavelmente enfrentarão taxas incluem o setor automotivo e os produtos farmacêuticos, entre outros. Há também discussões sobre o restabelecimento ou o aumento das tarifas sobre o aço e o alumínio (de acordo com as tarifas de 25% e 10% que impostas em 2018).
Setores mais afetados pelas tarifas de Trump
Embora ainda não esteja claro como a intenção de Trump de impor tarifas de importação à UE tomará forma, uma coisa é certa: certos setores são particularmente vulneráveis a essas medidas protecionistas. Quais estão na linha de frente deste impacto?
Setor automotivo
Esse é o alvo número um. Os EUA têm um déficit comercial significativo com a Europa no setor automotivo, principalmente com a Alemanha.
Uma tarifa de 25% sobre os carros europeus aumentaria consideravelmente o preço de BMWs, Mercedes, Audis, Volkswagens e outros no mercado dos EUA, afetando um dos pilares do comércio transatlântico. Na verdade, os setores automotivo, químico e de maquinário juntos representam quase 70% do comércio entre a UE e os EUA, portanto, um golpe na indústria automotiva teria ramificações de longo alcance. A Alemanha seria a mais atingida devido ao seu grande volume de exportação.
Máquinas e bens de capital
A Europa é um importante fornecedor de maquinário industrial, equipamentos elétricos, ferramentas e componentes para os EUA. Esse poderia ser outro alvo importante da política tarifária dos EUA. Na UE, países como Itália, Alemanha, França e Espanha têm empresas exportadoras significativas de maquinário e equipamentos elétricos.
Indústrias químicas e farmacêuticas
Produtos químicos, farmacêuticos e medicamentos estão entre as principais exportações da Europa para os EUA. Trump mencionou explicitamente os produtos farmacêuticos como candidatos a novas tarifas. Uma taxa alta tornaria os medicamentos europeus mais caros nos EUA e poderia até mesmo interromper as cadeias de suprimentos de saúde.
Aço, alumínio e metais
A indústria siderúrgica europeia já enfrentou tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio impostas por Trump em 2018. É provável que o segundo governo Trump restabeleça ou até mesmo endureça essas tarifas.
Por outro lado, Brasil e Canadá devem ser os países mais afetados em termos de exportação de aço e alumínio. O Brasil é, em volume, o segundo maior fornecedor de aço para os EUA, de acordo com dados do Departamento de Comércio Norte-americano, ficando apenas atrás do Canadá.
O Brasil deverá buscar diversificar os destinos dos seus produtos, procurando mercados em outros países ou até vender o excedente dentro do mercado interno.

Moda e produtos de luxo
A Europa é líder em produtos de luxo (moda, joias, cosméticos, carros de alto padrão). Os analistas sugerem que as marcas de luxo europeias com forte dependência do mercado dos EUA também estão expostas às tarifas de importação de Trump. Entretanto, muitas empresas de luxo e moda mitigaram o risco estabelecendo subsidiárias e instalações de produção nos EUA.
No caso do Brasil, há riscos e oportunidades, principalmente para as indústria de calçados. No ano passado, o Brasil exportou 10,28 milhões de pares para os EUA, com uma queda de 3,3% em relação a 2023. No entanto, com as tarifas impostas a México, Canadá e China, a maior produtora de calçados do mundo, as vendas de sapatos brasileiros para os EUA poderiam crescer.
Agronegócio
Embora a nova agenda protecionista de Trump se concentre nos setores industriais, o setor agroalimentar da Europa não está imune a riscos. Produtos icônicos da UE – queijos, óleos, vinhos, carnes curadas, chocolates e outros – podem ser afetados.
Por outro lado, as exportações do agronegócio brasileiro podem sair ganhando na frente. É o caso de produtos como carne, soja e algodão. No entanto, efeitos colaterais de médio e longo prazos – mais inflação e menos crescimento na economia mundial – poderão superar as oportunidades.
Efeitos das tarifas de Trump sobre as cadeias de suprimentos globais e europeias
É provável que a imposição de tarifas altere não apenas os fluxos bilaterais com os EUA, mas também a dinâmica das cadeias de suprimentos globais como um todo. Alguns possíveis efeitos e ajustes na cadeia de valor que podemos encontrar incluem:
Reconfiguração do sourcing
Os importadores dos EUA buscarão alternativas mais baratas para evitar as tarifas. Se um produto europeu ficar 10-25% mais caro, ele poderá ser substituído por fornecedores de países que não foram afetados ou que foram menos afetados. Por exemplo, uma empresa dos EUA que compra maquinário espanhol pode tentar adquiri-lo no México, na Turquia ou até mesmo produzi-lo localmente nos EUA para evitar as tarifas da UE. Isso pode, em certa medida, até beneficiar países como Brasil.
Aumento da produção local
Muitas multinacionais europeias poderiam acelerar os planos de transferir parte de sua produção para os EUA para evitar as tarifas. De fato, várias empresas da UE investiram em fábricas nos EUA nos últimos anos.
Pressão sobre os preços e a inflação
Um aspecto importante é que as tarifas funcionam como um imposto, que geralmente é repassado ao consumidor final no país importador. Se os insumos ou produtos acabados se tornarem mais caros devido às tarifas, parte do custo adicional será transferido para os preços de varejo. Isso poderia aumentar a pressão inflacionária nos EUA, que já tem sido alta recentemente.
Fragmentação da cadeia de suprimentos global
Um risco destacado pelos analistas é que essas políticas protecionistas em larga escala podem levar à fragmentação dos mercados, criando um cenário de blocos comerciais. Nesse cenário, cada bloco provavelmente se abasteceria dentro de sua esfera de influência (friend-shoring). Por exemplo, a Europa poderia comprar menos produtos dos EUA (se houver retaliações) e buscar fontes internas ou alternativas de outros aliados, enquanto os EUA reduziriam as compras europeias em favor de fornecedores domésticos ou de países com acordos comerciais.
Analistas brasileiros observam que esse tipo de medida pode acabar fortalecendo os acordos de livre-comércio no Mercosul e entre os BRICs.
Conclusões
União europeia: maior risco para a Alemanha e a Itália, risco moderado para a Espanha e a Holanda
A Alemanha (e, em menor escala, a Itália) enfrenta um alto risco devido ao seu significativo superávit comercial com os EUA, e seus principais setores de exportação (automotivo, maquinário, produtos químicos) seriam diretamente atingidos pelas tarifas. A França ocupa uma posição intermediária, com alguns setores sensíveis, mas com menor dependência geral. A Holanda e a Espanha, com déficits comerciais com os EUA e uma dependência menor do mercado americano para suas exportações, sofreriam menos com uma queda nas vendas dos EUA. Entretanto, eles ainda poderiam enfrentar efeitos colaterais, como a redução da atividade portuária ou possíveis tarifas retaliatórias da UE que poderiam aumentar o custo das importações das quais dependem.
Essa heterogeneidade explica por que a UE como um todo está buscando uma solução negociada, mesmo tendo que equilibrar os interesses nacionais díspares de seus membros. No entanto, há um denominador comum entre todos os países da UE: a firme convicção de que uma guerra comercial seria prejudicial para todos.
Brasil: entre o prejuízo e a oportunidade
Desde 2009, o Brasil mais importa do que exporta na relação comercial com os EUA, que são o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Em 2024, o país teve uma participação de 12% nas exportações brasileiras e de 15,5% nas importações feitas pelo Brasil. Foram cerca de US$ 40,3 bilhões em exportações e US$ 40,5 bilhões em importações dos Estados Unidos no ano passado, segundo dados do governo brasileiro.
É claro, as medidas tarifárias podem atingir o agronegócio e a indústria siderúrgica nacionais. Os efeitos das tarifas parecem, de imediato, prejudiciais ao país — mas podem se tornar uma oportunidade de crescimento, a depender da postura que o Brasil adotar.
Com a imposição das tarifas de Trump, o Brasil pode ampliar mais ainda o comércio com a China e outros parceiros comerciais, como México e Canadá, já em conflito tarifário com os EUA. Essa poderia ser, além de tudo, uma oportunidade para esses dois países iniciarem suas negociações com o Mercosul.
Diferentemente de outros mercados, o Brasil não exporta um valor considerável de commodities para os EUA. O país exporta aço e alguns produtos industrializados, nos quais, especialistas afirmam, não faz sentido iniciar uma guerra cormercial. Especialistas afirmam que a melhor saída para o contexto é a negociação, a busca por uma diplomacia, ainda mais pela questão temporal de incerteza – ainda é incerto se são medidas que durarão um longo prazo ou apenas um mandato.
Perguntas frequentes sobre as tarifas de Trump
O que são as tarifas de Trump?
As tarifas de Trump referem-se aos impostos impostos pelo presidente dos EUA, Donald Trump, sobre determinadas importações como parte de suas políticas comerciais protecionistas. Essas tarifas foram criadas para reduzir o déficit comercial e incentivar a produção doméstica, tornando os produtos estrangeiros mais caros.
Por que Trump está impondo tarifas à União Europeia?
Trump está impondo tarifas à UE como parte de sua estratégia comercial “America First”. Ele acredita que a UE tem práticas comerciais injustas, como o IVA europeu, que ele vê como uma barreira às exportações dos EUA. Essas tarifas têm o objetivo de resolver o desequilíbrio comercial e incentivar a UE a negociar termos mais favoráveis com os EUA.
Como as tarifas de Trump estão afetando o comércio global?
As tarifas de Trump estão interrompendo o comércio global ao afetar as cadeias de suprimentos. Países que dependem muito das exportações para os EUA, como a Alemanha e a Itália, estão enfrentando pressão econômica. As tarifas também levaram a tarifas retaliatórias de outras nações, complicando ainda mais o comércio internacional.
Como as tarifas de Trump estão afetando a economia dos EUA?
As tarifas de Trump têm o objetivo de proteger as indústrias dos EUA e criar empregos, mas estão levando a preços mais altos para muitos produtos nos EUA, afetando os consumidores. Elas também estão interrompendo as cadeias de suprimentos globais e aumentando o custo dos materiais para os fabricantes dos EUA que dependem de produtos importado.







